A edição de uma Medida Provisória permitindo que os estrangeiros tomem conta de nosso espaço aéreo revela o quanto o governo Temer está sintonizado com a política a ser adotada por Bolsonaro a partir de janeiro de 2019.
Na mesma direção se insere a decisão de deportar o ativista italiano Cesare Battisti que, pela constituição do país e a nossa tradição, jamais poderia ser alcançado por ter filho brasileiro, afora o status de residente que lhe foi conferido pelo presidente da república.

São medidas que antecipam o clima e o humor do futuro governo, cujas primeiras medidas já começam a ser lançadas pelo seu antecessor, em absoluta sintonia programática.

A abertura do espaço aéreo nacional para que empresas estrangeiras possam adquirir 100% de qualquer empresa aérea no Brasil expressa a absoluta falta de compromisso do atual e do futuro governo com os interesses nacionais e a nossa soberania.

Em qualquer lugar do mundo o espaço aéreo, como os demais meios de transporte, tem caráter estratégico e, por obviedade, sofrem restrições de atuação estrangeira. Restrições que não são de natureza econômica e sim por razões geopolíticas. Afinal, é um setor extremamente sensível e vulnerável. Não por acaso, tanto os profissionais do espaço aéreo quanto marítimo ou fluvial são catalogados como forças de reserva da aeronáutica e da marinha de guerra do Brasil. E assim é no mundo inteiro.

A partir de agora menos no Brasil, porque a nova equipe econômica pretende fazer do país um novo laboratório de experiências da política ultraliberal que eles pretendem experimentar.

Tais experiências, por serem nocivas aos interesses nacionais e profundamente anti-povo, só podem ser aplicadas, a rigor, sob a tutela de um governo autoritário, conforme preconizava Friedrich Hayek em O Caminho da Servidão, publicado por volta de 1943.

Não por acaso a pregação de Hayek e sua confraria de Mont Pelerin (Friedrich Hayek, Frank Knight, Bertrand de Jouvenel, Karl Popper, Ludwig von Mises, George Stigler e Milton Friedman), não conseguiu ser colocado em prática nos anos 40/50 nem na Europa e tampouco nos Estados Unidos da América que, embora desejassem, não poderiam esmagar direitos de seus trabalhadores enquanto a União Soviética socialista ampliava crescentemente esses direitos. Seria um erro tático e político crucial. Esperaram.

No auge da guerra fria, quando as ditaduras militares começaram a ser impostas mundo afora, só então a teoria de Hayek e de sua confraria puderam ser colocadas em práticas. Antes era impossível. A sua teoria se baseia num fervoroso anticomunismo e a tudo que cheire a progresso, bem como na defesa aberta do desmonte dos estados nacionais e da supressão de todo e qualquer direito social dos trabalhadores.

O Chile, da sanguinária ditadura Pinochet, foi escolhido como laboratório experimental dessa alquimia. Para lá foi então despachado o americano Milton Friedman, encarregado de aplicar a receita de Friedrich Hayek.

No auge dos governos progressistas experimentados na América Latina e especialmente no Brasil ninguém se orgulhava de ter participado da barbárie chilena. Mas agora, com a derrota dos governos progressistas e a vitória da extrema direita no Brasil, esses personagens começam a sair das sombras.

E é quando se tem conhecimento de que o Sr. Paulo Guedes, futuro ministro da Economia de Bolsonaro, foi um desses alquimistas a operar, sob o comando desse pensamento nefasto, o desmonte do estado chileno e a cruenta repressão que se abateu sobre os trabalhadores. É disso que estamos falando e é contra isso que devemos nos preparar para lutar, mesmo diante de uma realidade momentaneamente adversa.

Não nos dispersemos na perfumaria, convenientemente espalhada para nos atrair para o debate secundário enquanto eles preparam o assalto final.

* Deputado federal pelo PCdoB-AM. Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.