Minha mãe, costureira, estudou pouco. Meu pai, seringueiro e marceneiro, foi alfabetizado já adulto, quando minha irmã, Margarida, era professora do Mobral. Mas graças ao amor que eles tinham por nós, seus 15 filhos, nunca deixaram de nos levar nas campanhas de vacinação. Eu lembro que tentava me esconder, mas tinha sempre um irmão mais velho para me encontrar e me botar de volta na fila dos chorões. Eles, provavelmente, nem conheciam a palavra imunização, entretanto, sabiam que, se tomássemos as vacinas, nos livraríamos de doenças, como a Febre Amarela, Poliomielite, Sarampo, Rubéola, Difteria entre outras. Minha mãe e meu pai traduziam a expressão “quem ama cuida”.

O discurso do presidente Bolsonaro contra as vacinas é uma afronta ao direito constitucional dos brasileiros à vida e à saúde. Impedir, ou mesmo dificultar, que as pessoas se imunizem contra o coronavírus é crime de responsabilidade, diante do qual nós, os congressistas, teremos de agir.

O Brasil terá que movimentar todo o esforço possível para obter as vacinas para a população. Afinal, mais de 150 mil vidas já foram perdidas em meio à pandemia. E o governo federal continua paralisado, sem ações efetivas para reduzir as mortes. Não há nem mesmo planejamento para enfrentar as próximas ondas do vírus que já assistimos em outros países. 

O Tribunal de Contas da União (TCU) voltou a cobrar plano estratégico do Ministério da Saúde.

A irresponsabilidade do presidente da República não pode ser justificada por sua insensatez ou preferências políticas. Mesmo em comunidades remotas do Brasil, país que é referência mundial em imunização, as famílias sabem da importância de vacinar crianças e adultos contra doenças que matam ou deixam graves sequelas.

O movimento antivacinas no Brasil e, em alguns países, é cruel e desumano, sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma ameaça à saúde no mundo. Gestores e especialistas temem que o progresso mundial no combate a doenças evitáveis por imunização sofra retrocesso. Atualmente, a vacinação previne de 2 a 3 milhões de mortes por ano, segundo a OMS. 

A postura de Bolsonaro demonstra que ele governa para uma minoria extremista. Conforme pesquisa Datafolha, 89% dos brasileiros querem se vacinar contra a Covid-19 assim que a vacina estiver disponível. Apenas 9% não querem. A maioria não está interessada em debater se a vacinação deve ser obrigatória ou não. Quer sim ter acesso à vacina para retomar a sua vida normal. 

Esses grupos extremistas apostam na desinformação por meio de fake News. Dizem que todos serão levados à força para se vacinar, tentando gerar medo, mas sabem que a realidade é outra. O voto, por exemplo, é obrigatório, mas ninguém entra na sua casa obrigando a votar. Restrições são impostas, como a impossibilidade de participação em concursos públicos. Pode ser feito o pagamento de multa para regularizar a situação. 

Quando as vacinas estiverem disponíveis, é óbvio que Estados Unidos, Europa e Ásia só aceitarão visitantes com comprovante de vacinação. Somos, portanto, a favor da ciência e da vida. Estaremos mobilizados em luta no Congresso contra os desmandos de Bolsonaro e retrocessos. 

*Deputada federal pelo Acre e líder do PCdoB na Câmara.