A suspensão dos testes da vacina Coronavac, determinada na segunda-feira (9) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, causou espanto e indignação no meio político. A Anvisa decidiu interromper o estudo clínico alegando a ocorrência de um "evento adverso grave" nos testes.

A decisão da Agência foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro. Porém, poucas horas após o anúncio da suspensão das pesquisas, foi revelado que a morte de um voluntário que participava dos testes com o imunizante aconteceu por suicídio, e não por reações adversas à vacina.

Em resposta à medida adotada pela agência responsável pelo licenciamento de remédios, a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), apresentou um requerimento para que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, compareçam à comissão externa de enfrentamento à Covid-19 para prestar esclarecimentos sobre o episódio.

Subscrito pelos deputados Orlando Silva (PCdoB-SP) e Marcelo Ramos (PL-AM), o requerimento destaca que o objetivo da audiência pública será "esclarecer qual a causa específica para a suspensão dos testes da vacina Coronavac". O imunizante, produzida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Butantan, ligado ao governo de São Paulo, é uma das vacinas contra o coronavírus que está em fase mais adiantada de testes no mundo todo.

Para a líder do PCdoB, a postura do governo e, em particular as declarações do presidente Jair Bolsonaro por meio de suas redes sociais, são “muito graves”. "Bolsonaro comemorou o SUÍCIDIO de um brasileiro, culminando com a suspensão, pela Anvisa, da vacina Coronavac, tudo que o presidente mais desejava. O presidente coloca as disputas políticas acima da vida das pessoas", ressaltou.

Desde o início da pandemia, o presidente da República insiste em "politizar" o combate à pandemia, alimentando uma divergência com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre as medidas de contenção do vírus.

Na justificativa do requerimento, os deputados apontam que a suspensão dos testes ocorreu "coincidentemente" no dia em que o governo de São Paulo "mostrou a fábrica de vacinas que está sendo construída com o Instituto Butantan, para produção da Coronavac".

"Enquanto o vírus avança, cientistas correm contra o tempo para desenvolver vacinas e tratamentos eficazes, correm contra o tempo para desenvolver uma vacina capaz de imunizar a população. No Brasil, o presidente não só ataca esforços de cientistas, como também desestimula a vacinação obrigatória", diz o texto.

Repercussão

A reação da Bancada do PCdoB à suspensão dos testes da vacina foi imediata. Vários deputados usaram suas redes sociais para criticar a postura adotada por Bolsonaro, além de questionar os motivos alegados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Veja algumas frases:

Em uma rede social, a deputada Jandira Feghali (RJ) escreveu: "Bolsonaro não pode ser chefe de Estado, tem q estar FORA DA CADEIRA! Assume posições perversas, medíocres! Comemora a possibilidade de uma vacina a menos e UMA MORTE. Lamentamos o suicídio e exigimos explicações claras sobre a suspensão dos testes, q devem ser retomados já!".

O deputado Daniel Almeida (BA) também se manifestou em rede social. "O mesmo comemora a suspensão de testes da Coronavac, uma vacina promissora na luta contra a Covid-19, e o pior ainda, por uma morte que não teve relação com a vacina. "Vitória do Bolsonaro", mas quem perde é o povo, de novo".

A deputada Alice Portugal (BA) escreveu: "Bolsonaro e a Covid-19 jogam no mesmo time. Triste realidade! Politizar a vacina em meio a uma pandemia histórica e comemorar até o suicídio de um voluntário são os mais novos crimes desse presidente genocida".

Para o deputado Orlando Silva (SP), "é um absurdo fazer guerra política sobre a vacina". "A @anvisa_oficial suspende, de maneira arbitrária e sem justificativa, os testes com a coronavac por causa da morte de um dos voluntários. Bolsonaro corre a cacarejar que "ganhou" de Doria. Só que o voluntário morreu por suicídio. Politizar a vacina é absurdo! #bolsonarogenocida", disse.