A agenda do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, em Brasília trouxe mais uma vez a preocupação de um acordo desfavorável ao Brasil sobre a utilização norte-americana da base de lançamentos espaciais de Alcântara. O caso das crianças brasileiras e de outras nações encarceradas na fronteira com o México foi respondida com violência por Pence.

O aprofundamento da cooperação aeroespacial entre as duas nações saiu “fortalecida”, disse o presidente Michel Temer (MDB), em declaração à imprensa nesta terça-feira (26).

O uso da Base de Alcântara, que consta no processo de aproximação do atual governo brasileiro com os Estados Unidos, chegou a ser negociado, sem efetivação, em 2011. Na segunda-feira (25), um dia antes da visita de Pence, Temer sinalizou a abertura para a exploração do centro de lançamento de foguetes promulgando a aprovação de um novo acordo que foi aprovado pelo Congresso Nacional.

Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), é fundamental que o povo brasileiro “faça uso comercial da Base de Alcântara, mas que seja um processo definido por nós, e não essa vergonhosa submissão”. A parlamentar reafirmou que as relações diplomáticas devem se dar com respeito à soberania e sem imposições. “É esse país (EUA) que quer nos impor o uso comercial só porque são responsáveis por 80% do comércio espacial no mundo”, criticou.

Durante coletiva realizada no Palácio do Planalto, Temer afirmou que o Brasil vai “aproximar a Agência Espacial Brasileira e a Nasa (agência do governo norte-americano responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial)”. Sem entrar em detalhes, ele salientou que as negociações de salvaguardas tecnológicas, com vistas ao uso comercial da Base de Alcântara estão na pauta.

O “famigerado” acordo de salvaguarda foi barrado em 2002, pois “impedia a circulação de brasileiros em territórios que deveriam ser restritos, que impedia a fiscalização de contêineres que chegassem aqui”, acrescentou Jô Moraes. O objetivo do Itamaraty é entregar a base maranhense para a exploração comercial, que movimenta bilhões de dólares anualmente, sem a observação das contrapartidas.

Ameaça norte-americana

Se dirigindo aos países que têm refugiados presos nos Estados Unidos, Mike Pence foi agressivo na resposta e disse ter um aviso do povo americano: “vocês são nossos vizinhos e queremos que vocês prosperem. Não arrisquem suas vidas e a de seus filhos tentando entrar dos EUA ilegalmente”, ameaçou. 

Crianças brasileiras enjauladas

A separação de crianças dos pais que tentam migrar para o país de Donald Trump tem sido tratada como violação grave dos direitos humanos por diversos organismos internacionais. O cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa, confirmou na segunda-feira que 51 crianças brasileiras estão encarceradas e separadas de seus parentes depois de tentarem atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos.

O “recado” do vice-presidente americano foi duramente criticado em sessão do Congresso Nacional. “Sr. Mike Pence, volte para o seu país. Vá libertar as crianças brasileiras que o senhor está enjaulando por ordem do seu Presidente. Deixe que o nosso País tome conta de nós”, disparou a deputada Jô Moraes.