Primeiro é preciso ressaltar que as revelações de crimes praticadas pelo governo dos EUA só foram possíveis pela ação destemida de dois jovens americanos, Edward Snowden e Bradley Manning, em consórcio com não menos corajosos jornalistas Julian Assange e Glenn Greenwald, todos satanizados e vítimas de perseguições por parte do governo americano. Triste realidade vive os EUA: quem pratica o crime persegue e condena quem revela o ato criminoso.

Depois, é preciso se levar em conta que a espionagem americana que atingiu Dilma e o governo brasileiro não pode ser tratada como mais uma ação indevida dos serviços secretos dos EUA. Não. Trata-se de um ato agressivo, com interesses escusos, que agride a soberania entre as nações e os povos, perpetrado pelo governo de um país com tradição de utilizar os mais sórdidos meios para fazer valer seus interesses políticos, militares e econômicos.

Embora não vivamos mais a guerra fria, os EUA multiplicam a cada ano seus gastos militares não apenas para sustentar suas guerras pelo mundo, mas para garantir seus negócios planeta afora, para assegurar sua hegemonia e para dobrar governos que não lhes são servis. Sua máquina de espionagem continua ativa como nunca, seja para zelar pela segurança do país mais odiado do mundo, seja para garantir os interesses econômicos e comerciais de suas empresas.

O alvo da espionagem americana no Brasil, além do monitoramento da política externa brasileira, é claramente econômico e tem como objeto as cada vez maiores reservas de petróleo de nosso pré-sal. Ora, ao longo dos anos os EUA fabricaram motivos para dizimar nações inteiras com o propósito de se apoderar de seu petróleo, fomentaram guerras civis em outros países para empoderar aliados, subornaram governantes, assassinaram outros, depuseram uns tantos pela ação sempre ilegal da CIA ou dos "marines".

Agora, novamente fruto da coragem de dois jovens, um já condenado a mais de 30 anos de prisão, outro refugiado na Rússia, de onde jamais poderá sair senão será preso ou morto, o mundo toma conhecimento de que os EUA quebraram a criptografia da internet e espionam governos indiscriminadamente, sejam eles aliados, adversários ou inimigos.

Constata-se, assim, a máxima dita por um ex-secretário de Estado norte-americano, John Foster Dulles: "Os Estados Unidos não têm amigos, têm interesses".

E a resposta do Brasil e de outras nações deve atingir exatamente aquilo que é caro para os EUA: seus interesses. Se o objetivo principal da espionagem americana contra a presidenta Dilma e contra o Brasil é o pré-sal, a resposta de nosso país deve ser a proibição para que empresas americanas ou consórcios dos quais elas participem possam participar dos leilões do pré-sal.

Este seria um ato de coragem que certamente despertaria críticas dos adoradores do livre mercado encastelados em nossa mídia. Dirão ser ilegal, contra as regras da Organização Internacional do Comércio. E eu pergunto: a espionagem das comunicações da presidenta Dilma por acaso é um ato legal, encontra-se dentro das regras da ONU que regem a convivência entre nações soberanas?