Sob pressão de ministros da ala militar, do STF (Supremo Tribunal Federal) e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente Bolsonaro desistiu nesta segunda-feira (6) de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

A demissão do ministro chegou a ser anunciada como certa por alguns veículos de comunicação. O ministro também confessou a aliados que dificilmente permaneceria no cargo.

Atuaram na ofensiva para a permanência de Mandetta no cargo os ministros militares Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo (Defesa).

Davi Alcolumbre também avisou a ministros que a demissão do titular da pasta de Saúde não “seria bem digerida” pelo Congresso Nacional.

A pressão também veio das residências brasileiras com panelaços e de ministro do STF que não aceitariam uma mudança de orientação na pasta de Saúde no combate ao coronavírus.

Provável substituto

Mais cedo, Bolsonaro almoçou com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, e o mais cotado para substituir Mandetta no cargo.

Alinhado a Bolsonaro, Osmar Terra também é contra o isolamento social com o fechamento do comércio e escolas no país, conforme determina a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Segundo apurou a CNN, antes da reunião ministerial às 17h, que durou mais de duas horas, Bolsonaro teve uma reunião a sós com o ministro da Saúde quando foi decidido pela permanência dele no cargo.

Coletiva

Mais tarde em coletiva, Mandetta agradeceu a equipe técnica do ministério e disse que continua na pasta seguindo a orientação científica de combate ao coronavírus.

Disse ainda que foi um dia estressante com toda sua equipe técnica limpando as gavetas por causa da demissão anunciada. E pediu paz para trabalhar.

O ministro, que em nenhum momento falou no nome de Bolsonaro, afirmou que foi um dia que toda a equipe ficou sem trabalhar.

“Nós vamos continuar, porque nós temos um inimigo comum, que é o coronavírus. O médico não abandona o paciente e vamos ver as nossas condições de trabalho”, disse o ministro, anunciando que não iria responder perguntas na coletiva.

Na chegada ao Palácio do Alvorada, após a reunião, Bolsonaro evitou falar com imprensa.

Repercussão

No meio político, avaliava-se que a demissão do ministro poderia causar um caos no país por causa da mudança de orientação na pasta.

“Não é sobre cálculo político ou popularidade ou isso ou aquilo. Se a revisão da política de isolamento adotada por Mandetta for feita com a entrada de um novo ministro, é cálculo de vidas a serem perdidas! E Bolsonaro será o culpado se a crise sanitária explodir ainda mais!”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse ser surreal que o ministro tenha que suplicar para que o presidente pare de criar problemas e o deixe trabalhar.

“Ministro Mandetta diz que o Ministério da Saúde passou o dia sem trabalhar por causa da ameaça de demissão de Bolsonaro. Diz ainda que os médicos – todos, inclusive ele – precisam ter condições para desempenhar seu trabalho, critica endereçada ao presidente. Bolsonaro irresponsável!”, criticou o deputado no Twitter.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) destacou que Bolsonaro "não se importa com a vida dos brasileiros"ao cogitar a demissão de Mandetta.

Já a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), afirmou que só um presidente muito irresponsável e despreparado, trocaria o ministro da Saúde, "que está fazendo a coisa certa", em plena pandemia de coronavírus por ciúmes de popularidade. Apesar da aparente desistência no comando da Pasta, a líder da legenda teme que Bolsonaro passe a boicotar ainda mais as ações do Ministério da Saúde no combate ao Covid-19.

"Acabou a tinta da caneta do Bolsonaro. Não tem moral nem para demitir ministro. Acabou! Mas Mandetta fica enfraquecido, porque Bolsonaro sabotará todo o trabalho de enfrentamento ao Covid-19. Vamos nos preparar para mais mortes, se é que é possível se preparar para isso", lamentou a deputada em sua conta no Twitter.

A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) também comentou o descaso de Bolsonaro com o combate {a pandemia de coronavírus. "Já mais de 550 mortes pelo Covid-19, a economia está derretendo, profissionais de saúde morrendo por falta de EPIs e o governo brincando de demitir ministro, Digam que isso não é verdade, que não estamos vivendo isso", postou em suas redes.

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) também não deixou passar a ação de Bolsonaro. "Bolsovírus Jair Bolsonaro ainda não teve coragem para dar um tapa no Brasil, demitindo o ministro da Saúde. Tremeu hoje, mas não desistiu de sua psicopatia genocida. Mandeta tá seguindo roteiro técnico e científico. E isso exaspera o fantasma presidencial Bolsonaro", destacou.