O fim das sanções impostas contra o Irã, pelos EUA e a União Europeia, inaugura um novo ciclo histórico de desenvolvimento econômico, político, diplomático e humano. Consolidado como potência regional do Oriente Médio, o país persa busca novas parcerias comerciais sem retroceder em sua soberania e altivez frente a outras nações do planeta.

Estimativas do Banco Mundial indicam que, com o fim do isolamento, o PIB iraniano deve dobrar nos próximos dois anos – passando de 3% para 6%. As exportações de petróleo também devem registrar um aumento de 500 mil barris por dia. A previsão de especialistas é que apenas a Europa receba um aporte de 300 mil barris diários. Mais de US$ 100 bilhões em ativos iranianos no exterior também devem ser devolvidos ao país.

Os reflexos positivos do fim das sanções também alcançaram a Bolsa de Valores iraniana – que tem alcançado patamares cada vez maiores. O volume negociado diariamente aumentou de US$ 40 milhões para US$ 133 milhões pouco mais de um mês.

Diante deste novo cenário mundial, a reposta do governo brasileiro foi imediata e assertiva. No último dia 11 de fevereiro, a presidenta Dilma Rousseff se reuniu com o embaixador iraniano, Mohammad Ali. O encontro debateu a retomada das relações econômico-comerciais entre os dois países. Ainda durante a reunião, Dilma se comprometeu em realizar uma inédita visita presidencial a Teerã ainda em 2016.

Durante a era Lula o intercâmbio comercial entre Brasil-Irã alcançou dimensões inimagináveis para os passados governos neoliberais que tinham como parceiros prioritários os EUA e outras potências europeias. Em apenas uma década passamos de magros US$ 500 milhões (2002) para US$ 2,18 bilhões (2012). Mesmo diante das sanções impostas pelos EUA e seus aliados, durante o ano de 2015, as duas nações mantiveram relações comerciais da ordem de US$ 1,66 bilhão – índice 300% maior do que o registrado antes do governo do ex-presidente Lula.

Como presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Irã, da Câmara dos Deputados, saúdo o governo e o povo iraniano pelo fim das sanções – resultado da determinação e da sabedoria de uma nação que se opõe à guerra e à violência e que escolheu o caminho da negociação e da paz.

O que se verifica neste momento é um cenário de vitória diplomática da República Islâmica do Irã, que entendeu ser necessário dar um passo atrás, para se livrar do garrote contra o país. Este feito é resultado da resistência e da persistência do Irã, uma das mais antigas civilizações do planeta, que manteve toda a sua dignidade e força durante as longas, profissionais e complicadas negociações, que resultaram no acordo assinado no dia 16 de janeiro último.

O acordo nuclear é também uma derrota para Israel e para Arábia Saudita, já que o Irã conseguiu fazer valer seu direito a conservar e proteger seu papel frente a todos os intentos para isolá-lo.

Durante as negociações que resultaram no fim das sanções, Teerã manteve seus compromissos em relação ao histórico acordo nuclear, firmado com as potências internacionais em julho de 2015. A confirmação de que as negociações tinham chegado ao fim ocorreu poucas horas depois de os EUA e o Irã trocarem prisioneiros como primeiro sinal verde para a assinatura do acordo.

Nesta nova etapa de relações, entrou em vigor o Plano Integral de Ação Conjunta (JCPOA) entre Irã e o Grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha), que apresentará as diretrizes deste novo momento diplomático.

Destaco ainda o papel desempenhado, em 2010, pela chancelaria brasileira quando o ex-presidente Lula e o ex-chanceler Celso Amorim costuraram corajosamente um processo de negociações que foi a base do histórico acordo assinado em janeiro deste ano. A proposta – que previa um acordo com o Irã bem mais ambicioso – foi boicotada pelo presidente Barack Obama, que não aceitou a consolidação do Brasil como um novo ator nas discussões internacionais.

Reafirmo, por fim, as palavras do presidente da República Islâmica do Irã, Hassan Rohani, logo após o anúncio do fim das sanções: “O Irã abriu um novo e feliz capítulo em suas relações com o mundo ao fim das sanções por seu programa nuclear, com sua dignidade intacta e com o caminho aberto para reintegrar-se na economia global”.