A Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados realizou, nesta quinta-feira (10), seminário com o tema “Repensando a Economia Brasileira”, que debateu alternativas para a retomada do crescimento econômico no Brasil com geração de emprego e distribuição de renda.

O evento, promovido em parceria com a liderança da Minoria na Casa, recebeu as economistas Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB); e Esther Dweck, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Convidado para o debate, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo não pôde comparecer e enviou um vídeo em que faz um diagnóstico da grave situação econômica do país. “Estamos diante de uma crise conjuntural, que resultou de um ajuste fiscal absolutamente desnecessário”, disse.

O economista lembrou que a economia brasileira, que já foi uma das mais desenvolvidas entre os países emergentes, sofreu o mais intenso processo de desindustrialização, na qual alguns setores praticamente desapareceram – como o caso da indústria de eletroeletrônicos.

A expectativa dos organizadores do evento é que, a partir deste debate, os parlamentares dos partidos da oposição possam identificar e construir eixos para o desenvolvimento, que consigam unir as forças convergentes do país em ações que conduzam a mobilização da sociedade civil e uma atuação coerente no Congresso Nacional.

Segundo a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), romper as amarras de uma visão única que vem sendo imposta há pelo menos 25 anos, de que não há outro caminho a ser seguido, é o debate central do momento político e econômico brasileiro.

“A realidade brasileira tem profunda complexidade, com dados econômicos de difícil compreensão. Como a gente chegou a essa situação, com tanto desemprego, precarização, informalidade, falta de oportunidade e perspectiva para o povo brasileiro. Mas não podemos nos limitar às constatações. Precisamos entender porque chegamos até aqui, qual é a doutrina econômica que nos fez chegar até aqui, se temos saída e quais são”, resumiu.

Jandira destacou que a oposição deve apontar alternativas de um outro caminho para o Brasil, com geração de emprego, geração de renda, de novas perspectivas que o povo brasileiro pode ter. “A política econômica do governo Bolsonaro está equivocada. (Paulo) Guedes insiste que a solução é entregar tudo para o mercado e reduzir o papel do Estado. Isso só terá como desfecho o desastre econômico e social”, afirmou.

Debates

Em suas palestras, as convidadas fizeram abordagens sobre a ciência econômica mundial, que serviram de parâmetros para a análise dos rumos da economia brasileira e dos impasses provocados pelo ultraliberalismo dos últimos anos no país.

Para Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, o limite de gastos imposto pela Emenda Constitucional 95/2016, que adotou a política do “teto dos gastos” por 20 anos, “só serve a um senhor, o mercado financeiro”. “Sem investimentos do Estado cai a geração de emprego e renda”, assinalou a economista.

“Todas as vezes que se tentou reduzir gastos do governo e iniciar esta campanha de austeridade fiscal, que está vindo cada vez mais, a gente teve uma experiência péssima de um crescimento que rateia e não decola. Isso está acontecendo aqui e no mundo”, pontuou.

De acordo com Simone Deos, a política econômica do governo Bolsonaro “está desestruturada, produzindo um desastre que os dados mostram e os olhos veem”. Ela avaliou também que a retórica oficial está desatualizada em relação ao debate que se faz no mundo atualmente.

Foco no emprego

A economista defendeu uma orientação econômica “desenhada” para a geração de empregos. “Temos que ter programas desenhados diretamente para o emprego. Não esperar que o pleno emprego seja o resultado das ações de política econômica. Tem que ter foco no emprego de qualidade. Não interessa só o crescimento, o que precisamos é de desenvolvimento. Ou seja, crescimento com redução da desigualdade de renda e riqueza”, frisou.

Mediadora do seminário, Esther Dweck sublinhou que o debate revelou como a política econômica colocada em prática pela equipe do atual governo está na contramão das necessidades do país. “Ela não é capaz de promover a recuperação da economia”, disse.

Esther Dweck ressaltou que as opiniões convergiram para uma análise crítica da situação e na apresentação de alternativas que podem tirar o país da crise. “A estratégia principal deve ser retomar o crescimento e a geração de empregos”, apontou.

Para isso, a economista reforçou a necessidade de se barrar o processo de desmonte da economia e aumentar o investimento público para recuperar a capacidade de crescimento.

Alternativas

A presidente da Comissão de Trabalho, deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), destacou que Bolsonaro “se elegeu com fake news e está governando com mentiras”. A parlamentar lembrou que os trabalhadores têm sido um dos principais alvos dos ataques do governo.

“Uma coisa é certa: essa política econômica não resolve os problemas do país. Estamos vivendo retrocessos em todas as áreas e devemos apresentar caminhos ao nosso povo. Precisamos ir para as ruas e dizer que existem alternativas a esta política tão excludente e perversa, principalmente com os mais pobres”, frisou.