A Comissão de Cultura da Câmara realizou nesta quarta-feira (13), audiência pública para discutir o processo de inscrição das matrizes do forró como Patrimônio Imaterial do Brasil. A reunião aconteceu por iniciativa da deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), presidente da Frente em Defesa da Cultura, e do deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA). 

“Nos sentimos muito felizes em nos somar a essa luta em defesa do registro do forró como Patrimônio Imaterial do Brasil, porque é um cuidado com a nossa cultura, com a nossa história e com a identidade do povo brasileiro. Além da audiência na Câmara realizaremos atividades nos estados, nas Assembleias, Câmaras e também em atividades artísticas”, comentou a deputada Luciana, presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura.

O deputado Daniel Almeida acrescentou que o forró embala as festas juninas em todo o país e gera milhares de empregos – razões pelas quais merece a proteção do Estado. “Trata-se de uma manifestação cultural e artística extremamente democrática. Digo sempre que o forró chega com o mesmo brilho no rancho – debaixo do pé de árvore – e nos salões mais sofisticados do Brasil”, salientou.

Os parlamentares puderam ouvir sobre como o processo tem acontecido, sobre as organizações nos estados e sobre a relevância dessa iniciativa para a cultura do país. Para o professor Rangel Junior, reitor da Universidade Estadual da Paraíba e, segundo o próprio, “forrozeiro licenciado”, a educação e suas instituições têm papel fundamental na valorização da cultura e da arte como elementos de identidade de um povo.

“À pergunta ‘para que serve a arte’ eu respondo: Serve para nós sabermos quem somos. Serve para ouvir quatro cinco acordes de Asa Branca e eu saber de onde eu vim, e eu saber onde estão fincados os meus pés e as ideias que estão na minha cabeça. Para eu me reconhecer como gente, mas como gente de um lugar”, exclamou. Ele lembrou, ainda, que o registro do forró vai estimular a cadeia produtiva da economia criativa, da cultura, porque o forró “é instrumento não só de identidade, mas também de desenvolvimento econômico e social”.

Já Tereza Accioli, produtora cultural e coordenadora do Fórum em Pernambuco, emocionou o plenário lotado de forrozeiros de Brasília e da região ao lembrar o músico Accioly Neto, seu esposo, falecido em 2000 e referência para muitos dos presentes. Ela destacou que o reconhecimento do forró por parte do Iphan é fundamental para que a tradição não se perca e os artistas possam cada vez mais se profissionalizar.

“Tendo o reconhecimento do forró como patrimônio cultural, serão criadas mais políticas públicas para nossos representantes. Passaremos a participar da cadeia produtiva, da economia criativa”, disse Tereza.

A coordenadora do Fórum na Bahia, Rozania Macedo, se pronunciou na mesma linha, ressaltando a importância dos parlamentares se somarem aos esforços de produção do dossiê, destinando emendas parlamentares para essa finalidade no Iphan.

Marina Lacerda, coordenadora de Registro do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, falou sobre como acontecem os registros e as dificuldades enfrentadas para a confecção dos documentos necessários ao registro do forró. “Nós já tínhamos anuência, tínhamos parecer de que o tema tinha relevância e que deveria seguir e nos deparamos com uma questão muito sensível: o custo de uma pesquisa antropológica é muito alto e inviabilizou o nosso trabalho”, explicou.

A autora da ideia foi Joana Alves da Silva, presidente da Associação Cultural Balaio Nordeste e do Fórum Nacional em Defesa do Forró. Em 2011, a Associação Cultural Balaio Nordeste iniciou uma mobilização para reunir forrozeiros e valorizar a cultura. Em 2015, o fruto dessas mobilizações foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como pedido de registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil. Desde então, foram constituídos fóruns estaduais com objetivo de mobilizar os forrozeiros e promover espaços para o debate das questões pertinentes ao pedido.

“Esse movimento está crescendo porque tem interesse de toda comunidade de forrozeiros. Estamos em 14 estados: toda a região Nordeste, mais Rio de janeiro, Brasília e São Paulo”, explicou. Joana reforçou que os esforços agora são no sentido de garantir os recursos para viabilizar a produção do dossiê e garantir, com o registro, estrutura e fundamentos que possibilitem políticas públicas de fomento, preservação e valorização da cultura do forró.