A saída dos três comandantes das Forças Armadas do governo Bolsonaro demonstrou que o presidente não terá os militares na sua escalada antidemocrática. Foi a primeira vez na história que os três comandantes pediram renúncia conjunta por discordarem do presidente da República.

Todos reafirmaram que os militares não participarão de nenhuma aventura golpista, mas buscam uma saída de acomodação para a crise, a maior na área desde a demissão do então ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977, pelo presidente Ernesto Geisel.

Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) colocaram seus cargos à disposição do general da reserva Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, na manhã desta terça-feira (30).

Informações divulgadas pela imprensa dão conta de que Braga Netto tentou dissuadi-los de seguir o seu antecessor, o também general da reserva Fernando Azevedo, demitido por Jair Bolsonaro na segunda-feira (29).

O mal-estar pelo anúncio inesperado da saída de Azevedo, que funcionava como pivô entre as alas militares no governo, o serviço ativo e o Judiciário, foi grande demais.

Para a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que já ocupou cargo estratégico no Ministério da Defesa, destacou que as Forças Armadas demonstraram não estarem dispostas a entrar na disputa política encabeçada por Bolsonaro.

"Quando um ministro da Defesa é demitido por cumprir seu dever (artigo 142 da Constituição), e os três comandantes das Forças Armadas decidem pedir demissão em solidariedade é porque não admitem que as FA sejam tratadas como parte da disputa política, tal qual pretende o presidente Bolsonaro", afirmou a parlamentar.

Nesta segunda-feira (29), quando deixou o cargo, Azevedo divulgou nota dizendo que sempre preservou as Forças Armadas como instituições de Estado.

"As Forças Armadas, como ordena a Constituição, são instituições permanentes do Estado brasileiro e não servirão de joguete para os planos ditatoriais de Bolsonaro", afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) sobre o anúncio dos chefes das Forças Armadas.

Ultrapassou a linha vermelha

O motivo da demissão sumária de Azevedo foi o que aliados dele chamaram de ultrapassagem da linha vermelha: Bolsonaro vinha cobrando manifestações políticas favoráveis a interesses do governo e apoio à ideia de decretar Estado de defesa para impedir o fechamento das atividades não essenciais pelo país.

Bolsonaro falava publicamente em "meu Exército", colocando as Forças Armadas numa situação delicada.
"Os comandantes relutaram e mantiveram seu juramento à Constituição", afirmou a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Para a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) "é muita insensibilidade e demonstração de egoísmo pensar e atuar para pressionar as instituições do país mirando criar as condições para um golpe nesse momento". "Não está evidente que o momento exige união de esforços e atuação rápida para salvar vidas e a economia desse país?", declarou.

Impeachment

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a saída dos comandantes explicita a tentativa golpista de Bolsonaro e não deixa outra alternativa senão o avanço dos processos de imepachment contra o presidente.

"Bolsonaro tenta violar a democracia e põe os brasileiros à própria sorte na pandemia. Chega! Fora! Impeachment!", declarou a parlamentar.