Na última terça-feria (26), Lummertz, que está em Moscou para promoção do turismo no Brasil, disse que os brasileiros estão intolerantes diante das falas e que o episódio de agressão não teve a gravidade denunciada por entidades de defesa dos direitos das mulheres, porque não “morreu ninguém”.

Ele atribuiu a forte repercussão às redes sociais, e afirmou que compreende as críticas feitas aos brasileiros. Mas reforçou que “o simbolismo não representa nada estatisticamente” e emendou dizendo que não há razão para que a sociedade se preocupe com “tolices e bobagens cometidas por cinco ou seis pessoas em 70 mil. O Brasil é um país adolescente na forma de avaliar as coisas”.

Através de sua conta no twitter, o deputado Rubens Pereira Jr. (PCdoB-MA) rebateu a fala do ministro salientando que 12 mulheres são vítimas de homicídio por dia no Brasil e que, por isso, o governo não poderia relativizar o assédio de brasileiros. “Enquanto uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, o ministro do Turismo de Temer minimiza na imprensa os casos de assédio durante a Copa”, disse.

Rubens lembrou ainda que desde a criação da pasta, em 2003, o Brasil tem uma política de promoção turística que mostra as riquezas naturais do país, afastando estereótipos cultivados antigamente, entre eles a exploração sexual por meio do turismo como algo “normal”.

O primeiro vídeo divulgado nas redes mostra uma série de brasileiros estimulando uma russa a gritar junto com eles palavras ofensivas ao órgão sexual feminino. Vários dos participantes já foram identificados, um deles demitido pela companhia aérea onde trabalhava.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), que já foi vítima de violência verbal e física na Câmara dos Deputados, disse que o ministro demonstra despreparo por não compreender que “o assédio é parte da cultura de poder sobre às mulheres”.

Com o mandato voltado ao combate à violência contra mulheres, a parlamentar recordou que o Brasil é o 5º país do mundo em feminicídios e que por isso a declaração de Lummertz é vergonhosa. “Agora existe uma categoria de interesse turístico do governo chamada ‘turistas assediadores’?”, questionou.

Para a senadora Regina Sousa (PT-PI), o ministro do Turismo perdeu a oportunidade de ficar calado ao minimizar o assédio de brasileiros a russas. A parlamentar ocupou a tribuna do Senado na quarta-feira (27) para enfatizar que considera absurda a posição do governo Temer.

“O ministro deveria pedir desculpas às mulheres brasileiras, pois foi machista e constrangedor. Acho que se tivesse bom senso, ele pediria demissão, pois é impossível que uma pessoa que deve ter mãe, filha ou irmã aceite o que aconteceu”, opinou a congressista.

Ativismo russo contra o assédio

Segundo o site londrino de notícias BBC, a advogada Alyona Popova, ativista pelos direitos das mulheres na Rússia, divulgou um abaixo-assinado pedindo que o judiciário do país denuncie por insulto contra a honra os brasileiros envolvidos na “brincadeira” do vídeo.

A iniciativa da advogada, que também é alvo de machismo na internet, contava com quase 80 mil assinaturas até a manhã desta quinta (27). Na rede social VK, versão local do Facebook, alguns cidadãos russos estão usando a expressão vulgar ‘b… rosa’ como hashtag e nomes de grupos virtuais para criticar o comportamento de russas que aparecem em vídeos com estrangeiros.

No pedido de punição aos brasileiros, Popova salienta que existem leis para casos de humilhação pública e ataque a dignidade e a honra da garota do vídeo, além das outras situações de ofensas a todas as mulheres russas. A multa para os casos de insulto as cidadãs é de até 3 mil rublos.