A semana foi marcada pela constatação de que o governo Michel Temer é refém do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para ter influência na Casa e sobreviver politicamente, o interino se submete às ordens espúrias de Cunha, inclusive operando para salvar o mandato dele no Conselho de Ética.

Além de grave, a submissão de Temer aos caprichos de um notório corrupto é um deboche diante da sociedade brasileira que exige a punição do parlamentar, réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal (STF). É evidente que as constantes mudanças de posição do interino ocorrem após interferência direta e dos conchavos de Cunha.

Ignorando o clamor das ruas, o peemedebista permitiu que Cunha se transformasse no principal homem da República. É um novo tipo de imperador, como se não houvesse leis, apenas um cumpra-se. Mesmo após o afastamento do mandato e da presidência da Câmara ser determinado pelo STF, é visível o comando que o réu exerce na Casa, interferindo no funcionamento do Conselho de Ética e na composição das comissões para chantagear e tentar conseguir uma penalidade mais branda em vez da cassação.

No Conselho de Ética, Temer interviu diretamente a mando do réu. Após ele conversar com o PRB, partido da deputada Tia Eron (BA), que sinalizava voto contrário a Cunha, a parlamentar sumiu do Conselho. O plano é que o suplente Carlos Marun (PMDB-MS), defensor de Cunha, vote em seu lugar. Se a votação final tivesse ocorrido, Cunha teria sido absolvido por 11 votos a 9.

Nem mesmo a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania escapou das manobras ilegais. Para ter parecer favorável em consulta ao colegiado que protege seu mandato, Cunha ordenou a troca de integrantes da CCJ.

O mais triste é que o ritmo das negociatas aponta um cenário revoltante para os brasileiros: Cunha tende a ser absolvido no Conselho de Ética, podendo ter maioria na CCJ e se salvar no Plenário da Câmara. É intolerável! Isso só é possível, porque ele foi o principal responsável pelo impeachment, sendo o avalista do ilegítimo Temer. Hoje a estrutura do governo federal está a serviço do réu para atingir o objetivo de salvá-lo.

Temer e Cunha, portanto, são inseparáveis. Temos de estar atentos. É urgente que o STF julgue rapidamente o pedido de prisão do presidente afastado para impedir este conluio. A carreira política de Cunha tem de chegar ao fim. Se a Câmara não cumprir seu papel de representante dos interesses do povo, caberá ao Supremo encerrar esta história obscura que tanto envergonha o Parlamento.

*Deputado federal pela Bahia e líder do PCdoB na Câmara dos Deputados.