Mulher. Mãe. Negra. Jovem. Trabalhadora. A execução brutal de Marielle Franco, que era uma síntese do povo brasileiro, é uma tragédia nacional. A melhor homenagem à memória e trajetória desta ativista de direitos humanos é reafirmar o combate à violência e defender a cultura de paz no país.

O Brasil, com 210 milhões de habitantes, é o país onde mais se mata no século XXI. Entre 2001 e 2015, houve 786.870 homicídios, a enorme maioria (70%) causados por arma de fogo e contra jovens negros. Os números superam guerras internacionais deste século como Iraque (268 mil desde 2003) e Síria (330 mil desde 2011).

A violência é uma marca da sociedade brasileira e se alastra pelas grandes cidades, sendo que a brutalidade é ainda maior na periferia. Apesar da gravidade da crise social, não há como não ficarmos horrorizados e estarrecidos com a morte desta liderança política e de seu motorista Anderson Pedro Gomes.

Não se pode desprezar o fato de a vereadora do PSol do Rio estar denunciando as violações cometidas pela polícia. O assassinato bárbaro representa uma tentativa de intimidação de quem luta pela democracia, pelos direitos humanos e pelos interesses dos trabalhadores. Nos últimos anos, dezenas de líderes partidários e agrários foram mortos em diferentes cantos do país. Esses homens e mulheres merecem o melhor da nossa luta para que suas vidas não tenham sido sacrificadas em vão.

Exigimos que haja uma apuração rigorosa das razões dessa covardia. O crime trágico tem de ser esclarecido, e os responsáveis devem ser exemplarmente punidos. Temos de mostrar à sociedade que vale a pena a luta por um mundo socialmente mais justo. Não aceitaremos que essa investigação tenha o mesmo destino da maioria dos casos contra o povo no país. Conforme dados oficiais da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, somente 6% dos homicídios dolosos (com intenção de matar) são solucionados no país.

No Congresso Nacional, estaremos mobilizados por meio de uma Comissão Externa da Câmara dos Deputados, que acompanhará o esclarecimento desta violação grave para garantir que não seja mais um crime impune.

Manifestamos solidariedade às famílias das vítimas e aos companheiros de luta do PSol. Temos de nos unir cada vez mais para garantir que o povo, conhecedor da dor da violência, assuma o comando do Brasil. Só assim teremos políticas públicas eficazes e resgataremos o direito à paz e à Justiça. Marielle, presente! Anderson, presente!

*Líder do PCdoB na Câmara e deputado federal por São Paulo.