A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) ocupou a tribuna, nesta quarta-feira (23), para manifestar apoio a uma ação civil pública movida pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde) e Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab) contra a fabricante de aviões Boeing.

As entidades acusam a companhia americana de ameaça à soberania nacional pela “captura sistemática e contratação de engenheiros de empresas que fazem parte da Base Industrial de Defesa (BID) do país”, o que ainda coloca em risco a sobrevivência das companhias do setor.

“É muito importante trazer este debate aqui, porque, infelizmente, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa não estão atentos à gravidade deste assunto, que é perdermos engenheiros e termos um prejuízo grande, como já está havendo na área aeroespacial em relação à fabricação de satélites e de aviões”, afirmou a deputada.

Segundo Perpétua, além de os profissionais que a Boeing tem cooptado estarem sendo subtraídos principalmente do segmento aeroespacial, eles fazem parte de um seleto grupo de engenheiros altamente qualificados formados em instituições públicas como ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e universidades federais brasileiras.

Denúncia

A ação, protocolada na 3ª Vara Federal de São José dos Campos (SP), relata que os engenheiros cooptados pela gigante norte-americana são profissionais que integram as equipes das empresas que compõem a BID.

Esse setor altamente estratégico da indústria nacional é formado por mais de 1.000 companhias estatais e privadas que têm como objetivo a constante atualização das tecnologias usadas pelo Exército, pela Marinha e pela Força Aérea do Brasil.

O segmento é composto, entre outros, por fabricantes de satélites, equipamentos de uso militar e desenvolvedoras de sistemas. Entre as empresas prejudicadas pelo assédio da Boeing, estão Embraer, Akaer, Avibras, AEL Sistemas, Safran e Mac Jee, por exemplo.

“A Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, já foi quase comprada pela Boeing americana”, lembrou Perpétua Almeida. “Nenhum país sério deixaria isto acontecer: deixar a sua mais importante empresa de aviação ir para as mãos de estrangeiro. Isso é um debate de soberania nacional. Isso é um debate de segurança nacional”, complementou.

Impacto na economia

As associações também advertem que as empresas assediadas têm impacto expressivo na economia, uma vez que o setor nacional de defesa é responsável por 285 mil empregos diretos e 850 mil indiretos, segundo o Ministério da Defesa, além de movimentar em torno de R$ 200 bilhões por ano – o que representa 4% do PIB (Produto Interno Bruto Nacional) do Brasil.

De acordo com a Abimde e a Aiab, outro agravante é que entre os profissionais contratados pela Boeing estão engenheiros que participavam de programas nas áreas de defesa e segurança e tiveram acesso a informações confidenciais relacionadas a projetos estratégicos para o país.