Uma semana após o recebimento da denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara definiu quem analisará o caso no colegiado. Apesar de ser do mesmo partido do ilegítimo presidente denunciado, Sergio Zveiter tem conhecida estrutura jurídica no Rio de Janeiro. Dele, porém, não se espera nada além de neutralidade para analisar o processo apresentado pela Procuradoria-Geral da República.

Por mais que a defesa de Temer tente negar, o presidente prevaricou, obstruiu a justiça, formou quadrilha. Endossou a mesada dada ao presidiário Eduardo Cunha. Ouviu uma declaração de compra de um juiz e de um promotor e nada fez. As razões são mais que suficientes para que Zveiter apresente um parecer favorável e permita que o Parlamento diga sim à denúncia para que o Supremo Tribunal Federal possa julgar o golpista.

No entanto, o jogo político é cheio de meandros. E as pressões do povo são mais que necessárias para que parte dos deputados não ceda aos “encantos” governistas. Liberação de emendas, chantagem e pressões políticas fazem parte das conhecidas estratégias de Temer e seus aliados para garantir os resultados desejados. Mas uma denúncia grave como esta não pode ser sublimada assim.

A presidenta Dilma sofreu o impeachment e um golpe por conta de “pedaladas”, que nada mais eram que atraso de pagamento em bancos oficiais de programas essenciais para a população mais pobre do nosso país. Isso não era crime, não estava tipificado como crime. Mas eles não a queriam mais na cadeira que 54 milhões de brasileiros a colocaram.

Ao longo desses anos de governos de coalizão, não conseguimos fazer uma verdadeira revolução social. Ganhamos eleições, mas vivemos o tempo todo um cabo de guerra dentro do governo, pois havia um setor que queria mudanças, mas outro, representado por Michel Temer, não. Mantendo um jogo permanente de chantagem.

É por isso, que o sistema político brasileiro tem que mudar. O financiamento privado de campanhas sempre foi o grande núcleo contaminante da política brasileira. Transformou o dinheiro no principal cabo eleitoral do país. Ao mesmo tempo em que a Câmara analisa a denúncia contra Temer, o Parlamento discute uma nova reforma política. Se queremos mudanças, a população também precisa estar atenta a este debate.

A população precisa ter mecanismos eficientes de participação na democracia, o financiamento público, com teto para autodoação, é parte importante para manter um equilíbrio mínimo nas disputas e expurgar da política brasileira aqueles que pensam apenas em retirar direitos dos trabalhadores, vender as riquezas nacionais, como se apresenta na agenda ultraliberal de Temer.

Dia 11, o Senado pretende votar a famigerada Reforma Trabalhista. Este é mais um golpe contra a população, que terá seus direitos rasgados, caso seja aprovada. O momento político é delicado e pede reação. Temos que nos manifestar em alto e bom tom para impedir tantos retrocessos. A base de Temer está instável e as denúncias divulgadas a cada dia só reafirmam a fragilidade deste governo sem voto. Por isso, continuemos firmes na luta contra os retrocessos, ocupando as ruas, as redes para impedirmos o avanço dessa agenda e cobrarmos o Fora, Temer!

*Deputada federal pela Bahia e líder da Bancada do PCdoB na Câmara.