O ministro da Saúde, Nelson Teich, participou, via videoconferência, de audiência na Comissão Externa de Ações Preventivas ao Coronavírus, nesta quinta-feira (7), para falar aos parlamentares sobre as ações tomadas pela Pasta desde que ele a assumiu, após demissão do então ministro Luiz Henrique Mandetta.

Diferentemente do seu antecessor, Teich se esquivou da defesa do isolamento social como principal medida para conter o avanço da doença e disse que as decisões cabem aos estados e municípios.

“Temos que avaliar cada caso. É uma decisão de cada estado e município, local. Não existe uma medida geral. Porque senão estará juntando tudo numa coisa só. E isso não pode ser”, afirmou o ministro, após uma das perguntas feitas pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Para a deputada, diante da gravidade da crise sanitária e das ações dúbias do governo, era essencial que os brasileiros entendessem a orientação do governo.

“Estamos num momento gravíssimo. O mundo interiro nos olha pelo avanço da pandemia. E espero que consigamos superar o sentimento de orfandade. O senhor participa de um governo onde as mensagens do chefe de Estado são frias. O simbolismo mexe com comportamentos e mata. Por isso é tão importante saber sua opinião sobre o assunto”, disse Jandira.

As manifestações relacionadas ao isolamento social também foram reforçadas pelo deputado Dr. Zacharias Calil (DEM-GO). Para ele, era importante que o Ministério “realizasse uma campanha falando sobre a necessidade do isolamento social”. A medida também foi reiterada pelo deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).

A resposta de Teich, no entanto, foi apenas reiterar que as decisões são locais. A declaração evasiva do ministro já deve ser resultado de alguma “chamada” do presidente Jair Bolsonaro. Dias antes, Teich se reuniu pela primeira vez com os 27 secretários de saúde do país e foi cobrado sobre uma declaração do governo federal a favor do isolamento social. Na ocasião, segundo nota divulgada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Teich teria se comprometido em publicizar uma campanha recomendando o isolamento social em todo o Brasil – o que não foi confirmado na reunião da Comissão Externa.

O ministro leu sua apresentação e mostrou dados que não satisfizeram a urgência das demandas para combate ao coronavírus nas diferentes regiões do país. Informou que encomendou de empresas nacionais mais de 14 mil respiradores, com entrega de 200 unidades por semana. Nesse ritmo, no entanto, os estados só receberiam todos os aparelhos em 2021.

Segundo ele, a compra de equipamento de proteção individual (EPI) é de responsabilidade dos estados e municípios, mas o Ministério tem complementado essas aquisições. Sobre a compra de respiradores, o ministro afirmou que a Pasta adquiriu pouco mais de 14 mil unidades, sendo 487 foram distribuídas até o momento, e que a disponibilidade depende de importação de peças. Teich informou ainda que a estratégia nacional de vigilância epidemiológica e laboratorial para a Covid-19 visa a realização de 46 milhões de testes neste ano, mas não detalhou como será feita a aquisição e distribuição dos mesmos.

Para o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), no entanto, o ministro da Saúde “não deu um alento na reunião da Comissão Externa” e parecia perdido. “Relatou dificuldades e não explicou como fará concretamente para entregar os kits para testagem nem tampouco os kits de UTIs. Totalmente perdido. É a impressão que deixa a cada vez que fala”, afirmou Jerry.

A reunião acontece um dia depois de o Brasil bater um novo recorde no número de mortes pela doença: 615 vidas perdidas em um dia. Já são mais de 125 mil casos confirmados e 8.536 mortes confirmadas, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde.

“Somos o 6º país com mais óbitos no mundo. Não são números, são pessoas. Enquanto Bolsonaro continua a minimizar a pandemia de coronavírus, o Brasil é considerado o novo epicentro do vírus no mundo. E um estudo da Universidade Johns Hopkins (EUA) em parceria com universidades brasileiras aponta que o número de infecções no Brasil pode chegar a 1,6 milhão. E a situação tende a piorar com o descaso desse governo. Precisamos parar Bolsonaro”, defendeu a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Equipe militarizada

A parlamentar questionou o ministro sobre a militarização da sua equipe e sobre a possibilidade de quebra de patentes.

Teich, mais uma vez, foi evasivo. Sobre a militarização da equipe, afirmou apenas que a equipe é transitória, por se tratar “de uma situação de guerra”, e que a quebra de patentes está em análise no Congresso.

Amapá

A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) trouxe à tona a situação do Amapá. Segundo ela, o estado à beira do colapso e pediu auxílio ao ministro para atendimento da população. “Estamos com um colapso no sistema do Amapá. Estamos sem insumos e sem reagentes. A cada 100 testagens temos 78 casos positivos. Com o colapso fica difícil fazer o acompanhamento da evolução dos casos. Nos só temos dois médicos intensivistas. Precisamos de 20. Precisamos de EPIs para profissionais de saúde e para os que estão trabalhando nas atividades essenciais”, elencou a parlamentar.

Segundo Teich, os recursos estão sendo distribuídos de forma equânime entre os estados, sem priorização de unidade federativa. Mas afirmou que o estado será visitado, assim como ocorreu em Manaus.