O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou suspender provisoriamente o processo de investigação instaurado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro para apurar movimentações financeiras de Fabricio Queiroz consideradas "atípicas" pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O pedido foi feito na quarta-feira (16) pelo amigo e ex-patrão de Queiroz, Flávio Bolsonaro, eleito senador pelo PSL do Rio de Janeiro. A decisão de Fux foi dada no mesmo dia.

Agora, o processo só será retomado na volta do recesso do STF, quando o relator do caso, ministro Marco Aurélio, retornar às suas atividades. Fux está exercendo interinamente a presidência da Corte por conta das férias do ministro Dias Toffoli e é responsável pelo plantão durante o período de recesso judiciário.

Para o líder da bancada comunista, deputado Orlando Silva (SP), a decisão foi no mínimo “estranha”. “Ninguém está acima da lei, nem o filho do Presidente da República. Aliás, as pessoas públicas, todas, devem sempre mais explicações à sociedade. Se consideramos que o tal Queiroz foge da Justiça, igual o “diabo foge da cruz”, fica tudo mais estranho ainda”, disse o líder comunista.

Queiroz, alegando problemas de saúde, vem ignorando as convocações do Ministério Público para depor no caso. Flavio Bolsonaro foi chamado, mas também não foi. Familiares do ex-assessor também não compareceram. Agora, o filho de Bolsonaro consegue mais tempo, alegando que vai ganhar foro privilegiado, já que assumirá o cargo de senador em fevereiro. No entanto, Flávio não é um dos investigados no caso.

O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, chegou a dizer que poderia apresentar denúncia mesmo sem os depoimentos de Queiroz e Flavio Bolsonaro. Com a decisão de Fux, isso não pode mais ser feito. Em nota, o MP reiterou que o processo está suspenso até o retorno do relator.

Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), esta é mais uma traição da família Bolsonaro a seus eleitores. “Não eram a favor da transparência e das investigações doa a quem doer?”, questionou parlamentar em sua conta no Twitter.

Em dezembro, o Coaf apontou movimentação de R$ 1,2 milhão em uma conta bancária de Queiroz durante um ano sem que houvesse esclarecimento.

O documento revelou também movimentação de outros 74 servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A investigação faz parte da Operação Furna da Onça, um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, que levou à prisão dez deputados estaduais.

Queiroz recebia da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro um salário de R$ 8,51 mil e acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar. Ele foi exonerado do gabinete do deputado Flávio Bolsonaro no último dia 15 de outubro.