O brutal assassinato de Margarida Maria Alves, em 12 de agosto de 1983, foi o estopim para que mulheres do campo, anos depois, imbuídas do espírito de luta de Margarida, se organizassem em defesa de justiça, igualdade e paz no campo e na cidade. Em 2019, a sexta edição da Marcha das Margaridas, maior ação de mulheres da América Latina, que acontece até quarta-feira (14), em Brasília, amplia o seu leque de lutas e traz a defesa da democracia como peça-chave contra os retrocessos vividos nos oito meses de governo Bolsonaro.

“Esse é um momento importante. Pela primeira vez, não estamos entregando uma pauta política ao governo, pois entendemos que não dá para negociar com governo que retira direitos”, apontou a secretária de Mulheres de Trabalhadores Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e coordenadora-geral da Marcha das Margaridas, Maria José Moraes, durante homenagem na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (13).

Os eixos políticos da Marcha 2019 tocam em pontos como defesa da terra, água e agroecologia; autodeterminação dos povos, com soberania alimentar e energética; proteção e conservação da sociobiodiversidade; autonomia econômica, trabalho e renda; previdência e assistência social pública, universal e solidária; saúde pública e defesa do SUS; direito à educação do campo; autonomia e liberdade das mulheres sobre seu corpo e sua sexualidade; vida livre de todas as formas de violência; democracia com igualdade e fortalecimento da participação política das mulheres.

Homenagem

Na sessão solene em homenagem à Marcha das Margaridas, além da lembrança à história de Margarida Alves, parlamentares e trabalhadores rurais também reforçaram a importância da defesa da democracia e da soberania popular.

A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), ressaltou a importâncias das manifestações desta semana. Além das Margaridas, Brasília está tomada por estudantes e por mulheres indígenas. Os protestos, apesar de possuírem pautas distintas, somaram forças contra as ações arbitrárias do governo de Jair Bolsonaro.

“Hoje é dia de povo na rua e de dizer que não adianta nenhum governo tentar nos intimidar, pois nós continuaremos levantando nossas vozes, nossos afetos, nossas ideias. Essa é uma sessão fundamental, pois as mulheres estão dizendo que não aceitam mais a violência no campo, que não aceitam a retirada de direitos. Eu sou do PCdoB e sei o tanto de vidas que já perdemos em defesa da reforma agrária. Mas não deixaremos de fazer essa batalha. Esse Parlamento precisa se dar conta que esta é uma batalha estruturante para a democracia brasileira. Não baixaremos a cabeça enquanto não retomarmos a democracia plena neste país”, afirmou a parlamentar.

Já a procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, afirmou que “a ocupação dos espaços das ruas é fundamental para avançarmos”. “Espero que essas forças que se juntam consigam dizer não aos retrocessos que estamos vivendo”, disse.

Durante o ato, um grupo de mulheres indígenas entrou no Plenário Ulysses Guimarães sob aplausos. Grupo fortemente atacado pelo novo governo, as mulheres indígenas saíram, pela primeira vez, em marcha em defesa dos seus direitos e do meio ambiente.

“Nós saímos em marcha porque nós não aguentamos mais ver nossa mãe ser violentada. A Terra é mãe de todos e Bolsonaro, hoje, é a maior ameaça que temos”, disse a liderança indígena Sônia Guajajara.

Histórico

Realizada a cada quatro anos desde 2000, em Brasília, a Marcha se define como uma ação ampla e estratégica das mulheres do campo, da floresta e das águas com o objetivo de conquistar visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena.

A Marcha das Margaridas sairá do Parque da Cidade no dia 14 em direção à Esplanada dos Ministérios, onde será feito o encerramento nas proximidades do Congresso Nacional.