As eleições do último domingo marcaram o encerramento de um ciclo no país. A vitória eleitoral de forças políticas com visão ultraliberal na economia, ultraconservadora nos costumes e com viés autoritário na política projeta dias difíceis para a Nação e o povo. Mais do que nunca, será fundamental a conformação de uma oposição ampla, coesa, aguerrida e qualificada, seja no parlamento, nos movimentos populares ou na academia.

Às forças democráticas cabe extrair lições da derrota e projetar a resistência. Como sempre apontamos, a vitória teria sido possível desde que se aglutinasse uma frente mais ampla para defender o Brasil, a democracia e os direitos sociais. Não foi possível para a eleição, mas será vital para impedir a ruína do país.

Ao contrário do que projetaram ao fim do 1º turno, as forças do atraso não receberam um cheque em branco da população. O campo democrático foi ampliado por mais de 15 milhões de votos no 2º turno, justamente quando conseguiu se contrapor ao arbítrio e à negação de direitos representada pela candidatura da extrema direita.

Os 47 milhões de votos obtidos – quase 45% do eleitorado – foram resultado do revolvimento da consciência democrática nacional, extrapolando partidos e lideranças políticas. Esses eleitores não têm "dono" e não estão à procura de um líder, mas ávidos por ser parte de um projeto de Nação.

É esse o ponto de partida para a luta por um projeto para o país, que em tudo difere do que é representado pelo presidente eleito.

No lugar do autoritarismo, a defesa da mais ampla democracia; contra o arbítrio e o ódio, a defesa do Estado Democrático de Direito e dos direitos civis. Contra a censura e a perseguição, a liberdade de expressão, a autonomia universitária e a liberdade de cátedra. Contra a entrega das riquezas do país e as ameaças aos países sul-americanos, o desenvolvimento nacional soberano e a valorização da paz. Contra a concentração de renda e as desigualdades sociais, emprego, educação, saúde e inclusão social.

As medidas iniciais apontadas pelo governo eleito chocam pelo improviso e superficialidade. Apenas tendem a agravar os conflitos no campo e reduzir mercados do nosso agronegócio. Apenas tendem a ampliar a hipertrofia do setor financeiro, para a agonia da indústria. A elas, a oposição deve se contrapor no Parlamento e na luta popular.

Por fim, no movimento democrático que trabalhamos para forjar não haverá espaço para hegemonismos ou imposições. E as portas estarão sempre abertas. As enormes dificuldades que o Brasil atravessará para garantir a sobrevivência da democracia só poderão ser enfrentadas com unidade verdadeira, busca incessante pelo diálogo e pela amplitude, respeito às diferenças e generosidade das forças políticas.

Pensando assim, sugerimos uma articulação das bancadas do PCdoB, PSB e PDT na Câmara dos Deputados. Um ponto de partida para qualificar uma oposição firme ao futuro governo de Jair Bolsonaro, ao tempo em que defenderemos a democracia e o Parlamento, que deve ter uma agenda que sirva ao Brasil e à superação de tão dramático quadro social, econômico e político que vivemos.

*Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB de São Paulo e líder da bancada comunista na Câmara.