Desde sua nomeação para o Ministério da Educação (MEC), na última quinta-feira (25), Carlos Alberto Decotelli tem tido seu currículo contestado. Desta vez, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, negou nesta segunda-feira (29) que o novo ministro tenha obtido pós-doutorado na instituição, como consta em seu currículo Lattes e foi amplamente divulgado pelo governo.

De acordo com nota da universidade alemã, Decotelli participou de pesquisa por três meses na cadeira da professora Dra. Brigitte Wolf, em janeiro de 2016. Segundo a instituição, Wolf era professora de teoria do design, com foco em metodologia, planejamento e estratégia até 2017. Agora é professora emérita. “Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode fazer nenhuma declaração sobre títulos obtidos no Brasil”, afirma a assessoria da instituição.

A nova contestação repercutiu no meio político e das entidades estudantis. Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), vice-presidente da Comissão de Educação da Câmara, “no governo da fake news, nem o currículo do ministro é verdadeiro”. “Tem plágio na tese de mestrado e o doutorado é mentira! Com essas credenciais, vocês acham que o novo titular da pasta de Educação tem chance de ser um bom ministro?”, indagou a parlamentar.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-BA) afirmou que “inventar título e graduações para o currículo virou requisito básico para ingressar no governo Bolsonaro”.

“O ministro da Educação foi novamente desmentido pela universidade alemã, o que já parecia óbvio, tendo em vista que seria estranho ter um pós-doutorado sem ter doutorado. O mais grave é ele ter aceitado o cargo e ter mantido a mentira. Deve ser requisito para ser ministro nesse governo”, destacou o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão.

Além de Decotelli, outros dois ministros e dois ex-ministros de Bolsonaro apresentaram inconsistências em seus currículos. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, não era “mestre em educação” e “em direito constitucional e direito da família”, como afirmava em seus discursos. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também não era mestre em direito público pela Universidade Yale, como afirmava. Na Educação, os dois antecessores de Decotelli também mentiram. Ricardo Vélez Rodriguez “errou” ao menos 22 vezes em currículo. Já Abraham Weitraub publicou dois artigos idênticos em periódicos diferentes que exigiam ineditismo do material – prática conhecida no meio acadêmico como autoplágio.

Na última semana, um dia após ter sido nomeado, Decotelli foi desmentido pelo reitor da Universidade Nacional de Rosario, Franco Bartolacci. Segundo ele, Decotelli não possui título de doutor pela instituição, conforme também constava em seu Lattes.

Na ocasião, a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), cobrou explicações sobre o episódio ao novo ministro, lembrando que hoje ele é "a maior autoridade educacional do país". A parlamentar destacou que levou menos de 24 horas para que o currículo do novo ministro fosse colocado em xeque.

"Aliás, mentir sobre qualificação parece ser pré-requisito para ocupar cargo no governo Bolsonaro", comentou no Twitter.

Em nota, no dia 27 de junho, o MEC afirmou que “de forma a dirimir quaisquer dúvidas, o ministro já efetuou os devidos ajustes em seu currículo, que, em breve, estarão refletidos nas principais plataformas de divulgação de dados profissionais”.