O Congresso Nacional foi tomado pela sonoridade neste 8 de março. Servidoras, parlamentares, ativistas, mulheres do campo e da cidade vestiram-se de roxo para dar vazão à ininterrupta defesa de seus direitos. A sessão solene feita no Senado, alusiva ao Dia Internacional da Mulher, foi marcada por discursos repletos de significado, feitos por parlamentares e ativistas engajadas na luta por iniciativas que, em pleno século XXI, ainda lhes são negadas.

Segundo a líder do PCdoB na Câmara, deputada Alice Portugal (BA), a data é sempre uma oportunidade para valorizarmos as conquistas femininas históricas, em todos os campos, e de renovarmos as lutas de gênero. “É preciso resistir todos os dias, ainda mais neste governo que desmonta políticas públicas de assistência e proteção das mulheres. A cada gesto, Temer demonstra que o governo joga contra as mulheres. O golpista reforça preconceitos, a desigualdade, a intolerância e ameaça seriamente garantias dos governos Lula e Dilma. Hoje é dia de nos unirmos para dar um basta ao desmonte”.

Para além das homenagens e discursos de luta, o 8 de março foi marcado por uma greve geral de mulheres. Com o mote “se nossas vidas não importam, que produzam sem nós”, todas foram convidadas a aderir à mobilização internacional 8M. Mulheres unidas se insurgindo contra todas as formas de violência, em todos os momentos da vida, em qualquer lugar. Um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denúncia de políticos e empresas misóginas.

Mesmo que uma mulher não tenha sofrido na pele quaisquer dos abusos aos quais está exposta, a solidariedade foi a arma. Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a paralisação proposta pelo 8M serviu como um choque de realidade para esta sociedade machista e repleta de ameaças aos direitos e às vidas femininas.

“Que sintam nossa falta, que entendam a nossa importância e o que significa ficar sem nós. Neste momento, o que nos apontam são retrocessos, do Planalto e mesmo deste Congresso, que tem em grande parte uma composição muito atrasada. Tudo o que conquistamos está sob risco. Nós precisamos fazer uma grande resistência e avançar mais”, declarou a parlamentar, ao se referir a propostas como a Reforma da Previdência – em tramitação na Câmara.

Em sintonia com as manifestações programadas pelo país, às 12h30 houve um “apitaço” em repúdio às medidas anunciadas pelo governo e em solidariedade às mulheres que não puderam aderir às greves programadas para acontecer no mesmo dia em mais de 50 países. Formada majoritariamente por ativistas de organizações femininas, a plateia juntou ao som dos apitos gritos de “Fora Temer”, em protesto contra o governo.

Mulheres no poder

O lugar da mulher é onde ela quiser, isso é indiscutível. Mas se tem um espaço que o gênero está longe de ocupar com efetiva representação é a política. No Congresso Nacional, a participação feminina está muito abaixo do esperado. No Senado, são 12 senadoras entre os 81 eleitos para a Casa Legislativa. Já na Câmara, elas ocupam 50 cadeiras no universo de 513 parlamentares. Para uma população cujo eleitorado é de 52%, esse número é opressor.

A desigualdade da representação feminina nos espaços de poder foi um dos pontos abordados por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) em seu pronunciamento durante a sessão solene. A senadora ocupa na Casa o cargo de Procuradora Especial da Mulher, e defende que o Brasil não pode aceitar “como se fosse normal” esses números.

“Estamos cansadas, porque ninguém ouve as nossas reivindicações, ninguém ouve as nossas falas. E, infelizmente, quando falamos sem que aqueles que detêm o poder nos ouçam, é preciso que falemos mais alto, cada vez mais alto”, ressaltou a procuradora.

Reconhecimento

Em meio às homenagens realizadas na sessão solene, houve a entrega do Diploma Bertha Lutz a cinco mulheres que fizeram a diferença na luta pela equidade de gênero. Entre elas, a major da Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago Santos do Rosário, responsável por ações em defesa dos direitos das mulheres; e a ativista gaúcha Diza Gonzaga, que dirige o programa Vida Urgente, pela educação no trânsito.

A lista se completa com os nomes da diplomata Isabel Cristina de Azevedo Heyvaert; da professora Raimunda Luzia de Brito, ativista pelos direitos da população negra no Mato Grosso do Sul; e a escritora paulista Tatiane Bernardi Teixeira Pinto.

Bertha Lutz foi uma das pioneiras na luta pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres em todo o nosso País. Foi responsável pela criação da Federação Brasileira para o Progresso Feminino.


Com informações da Agência Senado