Alvo de denúncias que mancham sua biografia, o presidente da Câmara dos Deputados tenta jogar a crise política e aética contra Dilma Rousseff.  Na tentativa de se salvar das manchetes de corrupção, Eduardo Cunha usa o artifício do impeachment para vingar-se do governo federal num jogo rasteiro e nada republicano. Uma manobra. Uma chantagem.

Até então, a possibilidade de impeachment foi sendo usada como forma de pressão no Conselho de Ética da Casa que analisava o processo de perda do mandato de Cunha. O presidente da Câmara ameaçava a todo momento deferir o pedido, caso não tivesse votos suficientes contra a aprovação da admissibilidade do processo. Por esses e muitos outros fatos que ele perde as condições de presidir a Câmara.

A tentativa do impeachment é, sim, um erro grotesco do presidente e de todos aqueles que se perfilam ao golpismo. O impedimento de Dilma seria um ataque à Democracia, conquistada com sangue e luta de diversos brasileiros na História, além de um arremesso covarde do país ao abismo de incertezas e crises econômicas inimagináveis.

É concreto que a prática de crime de responsabilidade da presidenta Dilma não existe. Não há investigações em curso contra ela nem provas de algo do tipo. Forçar essa via é apostar na ruptura democrática e querer apagar os 54 milhões de votos dados em 2014 ao governo eleito.

Cunha, ao pôr o impeachment à luz do debate nacional, é uma das figuras mais acusadas de corrupção e com diversas provas já divulgadas. Em meio a este lamaçal, apontar para o impedimento é sinalizar afagos e tentativas de sua sobrevivência no Conselho de Ética junto à oposição no Parlamento.

Aliás, essa é a mesma oposição que dividia almoços e jantares à paisana com Eduardo Cunha, na tentativa de avançar com o golpe. Num rápido hiato, teatralizou para a “plateia” que estavam rompidos. A oposição chegou a tomar o Conselho e proferir palavras de ordem contra o ex-atual-amigo-de-sempre. A hipocrisia é reinante na terra de tucanos, Democratas e integrantes do PPS.

Há que se analisar o aspecto técnico do modus operandi de Cunha. O deferimento esta semana do pedido de impeachment revelou sérios erros constitucionais, e que serão questionados por nós dentro da Câmara. Junto ao Supremo Tribunal Federal, o deputado maranhense Rubens Pereira Junior, junto do próprio PCdoB, impetrou as devidas reclamações.

É preciso dizer que a decisão revanchista de Cunha não terá ressonância dentro da Câmara, nem na sociedade brasileira. Mostrarão que esse comportamento pueril, destemperado e de desestruturação emocional se revela como seu desespero e comportamento político conservador. Um perfil que comandou as pautas mais retrógradas no último ano.

Na próxima terça-feira (8), deverá ser instalada a Comissão que analisará o impeachment e estarei no front como titular pelo Partido Comunista do Brasil. Será uma honra representar os milhões de cidadãos brasileiros que se indignam contra o golpismo em curso. Se eles acham que vai ser fácil derrubar a democracia, é porque não conhecem de fato o poder do povo. Estaremos juntos, no país inteiro, mostrando que Dilma ficará e que o golpe não será concretizado.

*Médica, deputada federal (RJ) e líder do PCdoB na Câmara.