Os gastos sigilosos do cartão corporativo da Presidência da República aumentaram significativamente nos primeiros meses de 2020. Em tempos de austeridade, Bolsonaro, que sempre adotou discurso crítico sobre o excesso desse tipo de gasto, torrou quase R$ 4 milhões nos quatro primeiros meses do ano – o dobro se comparado à média dos últimos cinco anos no mesmo período. A divulgação, feita pelo jornal Estadão esta semana, repercutiu no meio político, enquanto Bolsonaro tentava justificar o aumento com os voos para Wuhan, na China, para resgate dos brasileiros.

No entanto, mesmo com os gastos divulgados pelo Planalto para a ação (R$ 739.598, via cartão corporativo, com os três voos enviados ao país asiático em fevereiro deste ano), o valor é superior.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o “falso moralismo de Bolsonaro fica escancarado quando se vê a explosão de gastos sigilosos com os cartões corporativos”.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também criticou os gastos. “Um absurdo. E o detalhamento dos gastos ainda é trancado a sete chaves pelo Palácio do Planalto. Por que, presidente?”, questionou a parlamentar.

Os dados, apesar de lançados no Portal da Transparência do governo, não são detalhados pelo Palácio do Planalto por “questões de segurança”. Em lives em suas redes sociais, no entanto, Bolsonaro já havia afirmado que abriria a fatura dos cartões – o que nunca aconteceu.

O aumento dos gastos ocorre no momento em que o Brasil, assim como o resto do mundo, atravessa uma grave crise sanitária devido à pandemia de coronavírus. E sua divulgação coincide com o período em que as ações do governo para auxílio das famílias brasileiras deixam a desejar.

Apesar de mais de 50 milhões de brasileiros já terem recebido a primeira parcela do auxílio emergencial de R$ 600, a fila ainda não zerou e 14,7 milhões de cadastros ainda aguardam análise. Além disso, não há previsão para início do pagamento da segunda parcela do benefício às famílias.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Bolsonaro esconde a fatura “com medo de o povo descobrir o que ele consumiu”. “E o povo passando fome sem a renda emergencial. Cara de pau!”

A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) também criticou os gastos presidenciais e lembrou que Bolsonaro se elegeu com o discurso de ser o “paladino da ética”. “Não há transparência dos gastos e já é um governo marcado pela tentativa de ocultar qualquer foco de corrupção. Porque quer esconder tudo e de todos? Bolsonaro se elegeu propalando, dentre outras bravatas, que "acabaria com a mamata". Dizia que em seu governo haveria transparência de todos os gastos e de que seria impiedoso contra qualquer foco de corrupção. Pois bem, nada disso foi feito”, pontuou.

Os cartões da Presidência são usados, por exemplo, para pagar despesas ligadas ao presidente e seus parentes. As despesas incluem viagens nacionais e internacionais, serviços e abastecimento de veículos oficiais que servem o presidente e gastos de rotina do Palácio da Alvorada, como aqueles com alimentação, bebida e para recepções.