Neste momento de ânimos e posições extremados e em que a razoabilidade parece ter sido relegada à segunda importância, exatamente num espaço de debates e decisões onde deveria imperar uma lógica inversa, é necessário que façamos uma reflexão sobre as consequências do golpe em curso, em nome do Brasil, de suas instituições e de seu regime democrático.

O que está em curso ameaça não somente um grupo ou segmento político, mas o Brasil, sua estrutura institucional e seus valores democráticos. Ora, eu sei que muitos já ouviram ou leram isso durante esses longos dias. Contudo, é necessário que detenhamos maior atenção para as reais consequências disso tudo e a quem interessa essa lambança que ameaçava as regras do jogo democrático e a legitimidade de quem puder vir a assumir o poder em nosso país.

Não conheço em toda experiência política recente algum país que tenha conseguido tornar-se uma grande nação sem que tenha dado a devida atenção para o fortalecimento de suas instituições e sem que tenha tido o cuidado de separar da disputa política conjuntural aquilo que é de interesse crucial e estratégico para o seu respectivo Estado e para a sua gente.

Ora, impichtimar uma presidenta, legitimamente eleita, sem uma irrefutável imputação de crime de responsabilidade, consoante expressamente demanda nossa Lei Maior, não seria apenas um golpe rasteiro e (até infantil) daqueles que demonstram ser maus perdedores; seria também um enorme tiro no pé ou mesmo no coração de nossas instituições.

Como quereríamos nos tornar uma nação desenvolvida, respeitada e reconhecida no mundo inteiro e capaz de promover uma salutar qualidade de vida para os seus nacionais, se pudéssemos cometer uma barbeiragem política como esta, demonstrando nossa incompetência democrática e nossa fragilidade institucional; como demonstra ser a desesperada tentativa conduzida pela dupla Temer/Cunha?

Afinal de contas, quem seriamente iria nos considerar aptos e capazes de conduzir grandes projetos e realizações no mundo contemporâneo, se nem conseguiríamos nos mostrar capazes de separar o que é da política conjuntural, daquilo que é essencial e crucial para nossa vida política em si, visto tratar-se das regras do nosso jogo político. Sem essa estabilidade e essa demonstração de seriedade, continuaríamos sendo vistos e avaliados como uma nação de menor importância e onde sempre se poderia impor interesses exógenos.

Ao derrotarmos essa ofensiva golpista (no parlamento e nas ruas), estaremos removendo uma das grandes barreiras que vem nos freando o nosso desenvolvimento político-institucional, pois estaremos demonstrando que aqui, nesse chão, há capacidade, há seriedade e há um projeto de grande nação em curso e que não aceita ser abortada bruscamente.

*Professora Marcivânia é deputada federal pelo PCdoB/Amapá.